Arquivo diário: 31 Agosto, 2025

O dom não apreciado. Comentario para os Esposos: Lucas 4, 16-30

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 4, 16-30

Naquele tempo, Jesus foi a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou
na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura. Entregaram-Lhe o livro do
profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que estava escrito: «O Espírito
do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres.
Enviou-me a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a
liberdade aos oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor». Depois enrolou o livro,
entregou-o ao ajudante e sentou-Se. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga.
Começou então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que
acabais de ouvir». Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras
cheias de graça que saíam da sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José?».
Jesus disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Faz
também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum».
E acrescentou: «Em verdade vos digo:
Nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Em verdade vos digo que havia em
Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três
anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi
enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia. Havia em
Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado,
mas apenas o sírio Naamã».
Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se,
expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade
estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles,
seguiu o seu caminho.

O dom não apreciado.

Esta passagem convida-nos a refletir sobre um fenómeno comum na vida dos casais: a
dificuldade de reconhecer a grandeza e a ação de Deus naqueles que nos são mais
próximos. Jesus é rejeitado precisamente por aqueles que o conhecem desde criança. A
familiaridade impede-os de ver o que Deus está a fazer através d´Ele. No casamento,
pode acontecer algo semelhante: com o tempo, deixamos de «ver» o outro, o seu
valor, os seus dons ou mesmo o seu sofrimento, porque o tomamos como
garantido. O «amor» (o amor mal compreendido) pode esfriar, mesmo sem a
existência de grandes problemas, mas simplesmente pela rotina, pelo hábito e pela
falta de admiração ao não reconhecer a digníssima criatura e filho de Deus que é o
nosso cônjuge. O Senhor convida-nos a olhar para o nosso/a esposo/a com os olhos de
Deus, com ternura renovada, valorizando a sua história, as suas feridas, os seus dons.
É bonito ver nesta passagem como Jesus não se acomoda às expectativas do seu povo. Na
nossa vida matrimonial, também é vital aceitar que o outro não é exatamente como
eu quero que seja, mas como é. Amar não é moldar o outro à minha imagem, mas acolhê-
lo e acompanhá-lo no seu processo e entregar-me tal como eu sou e tal como o
outro é. A reação violenta das pessoas perante Jesus alerta-nos para o perigo de nos
fecharmos à mudança, de não deixarmos que o Espírito nos confronte e transforme. No
casamento, isso pode traduzir-se em orgulho, teimosia ou medo de ceder. Mas o amor
maduro requer humildade, escuta e abertura à correção mútua

Transposição para a vida matrimonial

Julio: Sabes uma coisa? Desde que fizemos o retiro do Projeto Amor Conjugal, estou a
descobrir uma Rosa que antes estava a perder. Agora vejo-te cada vez mais como
uma dádiva para mim e, verdadeiramente, a minha ajuda adequada em tudo.
Rosa: Que bonito, Julio, muito obrigada. Eu também tento, embora, como tu deves ter
percebido, muitas vezes não consiga e volte a cair na tentação de não olhar para ti com o
olhar com que o Senhor te olha.
Julio: Bem, eu também não sou perfeito, mas reconheço que, assim que começo a
perceber que estou a criticar-te interiormente, o Senhor dá-me a graça de
perceber isso e tento, por todos os meios, não me regozijar com esses maus
pensamentos. Há vezes em que não consigo e é aí que estrago tudo e começam as
discussões.
Rosa: Isso é fundamental. Tentar ter esse autocontrolo, que para mim é tão difícil.
Quando não consigo controlar isso, todo o meu passado se revolta e não consigo sair
das minhas críticas e dos meus maus pensamentos em relação a ti. Muitas vezes, o
demónio apanha-me e eu caio na vitimização e na autocompaixão, sem prestar atenção a
todas as coisas boas que posso fazer por mim e pelos miúdos.
Julio: Bem, muitas vezes eu também não te facilito as coisas. Tu sabes que eu não sou
perfeito e, quando penso nisso, e embora tu também não sejas, percebo como te torno
difícil a tarefa de alcançar esse autocontrolo e redescobrir o valor que tenho aos olhos de
Deus.
Rosa: Olha, deste-me ótimas ideias: vou começar a aplicar o que me disseste e vou
tentar parar desde o início os maus pensamentos e, ao contrário, tentar sempre
ver-te como um dom para mim.

Mãe,

Ajuda-me a redescobrir o valor do meu/minha esposo/a todos os dias, a aprender a olhar para ele/a com a tua misericórdia e a reconhecer que ele/a é um instrumento de Deus para mim. Louvado seja o Senhor!

O teu esposo é o convite. Comentario para os Esposos: Lucas 14,1.7-14

EVANGELHO

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 14, 1.7-14

Naquele tempo, Jesus entrou, num sábado, em casa de um dos principais fariseus para tomar uma refeição. Todos O observavam. Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, Jesus disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não ocupes o primeiro lugar. Pode acontecer que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu; então, aquele que vos convidou a ambos, terá que te dizer: ‘Dá o lugar a este’; e ficarás depois envergonhado, se tiveres de ocupar o último lugar. Por isso, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar; e quando vier aquele que te convidou, dirá: ‘Amigo, sobe mais para cima’; ficarás então honrado aos olhos dos outros convidados. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». Jesus disse ainda a quem O tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que te retribuir: ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.

O teu esposo é o convite

No coração de Cristo, estamos em primeiro lugar, e Ele convida-nos para o Seu grande banquete. Mas rejeitamos o convite, traindo-o: espionado, preso, julgado, esbofeteado, espancado, ridicularizado, flagelado, condenado, empurrado, insultado, ultrajado, perfurado, esticado, crucificado, abandonado, maltratado, traspassado, assassinado, sepultado… e, finalmente, ressuscitado pelo Seu Pai e sentado à Sua direita.

Em que coração queres viver e ocupar o primeiro lugar: no d’Ele ou no teu? No primeiro morres para viver, no segundo vives para morrer.
A que festa desejas ir: ao grande banquete do Céu ou a uma festa triste, de “garrafão” numa estalagem má, com ressaca eterna?
Talvez te perguntes quando e onde será o grande banquete, que manjares se servirão, ou como deverás ir vestido. A resposta está no coração do teu Esposo.
O teu Esposo é o convite de Deus para o banquete. Na Sua intimidade está a grande promessa. No nosso sacramento, a porta de entrada. Queres assistir? Queres ser santo?

Transposição para a vida matrimonial

(Luís fala com Pedro, o seu tutor, acerca do seu matrimónio com Maria)

Luís: Ontem disse-me que já não sente nada por mim, que quer ir-se embora. Pediu-me o divórcio.
Pedro: Vem, dá-me um abraço. Tens consciência de que não estás sozinho, não é?
Luís: Sinto uma impotência tão grande!
Pedro: Talvez tenha chegado o momento de Lhe pedires que seja Ele a agir.

Luís: Como?

Pedro: Pergunta a ti mesmo: quem ocupa o primeiro lugar no teu coração, o sofrimento da Maria ou o teu? Quando te entregas a ela, fazes com pureza de intenção, ou esperando algo em troca? A tua entrega é total, ou reservas algo para ti? Foste-lhe fiel? Não apenas no que fazes, mas também no que pensas e desejas.
Luís: Então… a culpa é minha?
Pedro: Não se trata de culpa. Trata-se de perceberes que tens o poder de Cristo para viveres a verdade no teu matrimónio. A alegria reúne, a dor une. Repara, na alegria todos nos reunimos em volta de Cristo. Mas é na dor que verdadeiramente nos unimos a Ele.
Luís: E por onde começo?
Pedro: Começa diante do Santíssimo. Não Lhe digas nada, não Lhe imponhas nada. Humilha-te simplesmente e pede-Lhe que te mostre a tua verdade. Não tenhas medo. Quando Ele te mostrar a tua miséria e tu a reconheceres, o Seu Espírito virá, e com a Sua caridade poderás apoiar a Maria.

Luís: É que não tenho forças… nem esperança.
Pedro: Luís, mesmo que não o vejas, agora recebeste uma graça enorme. Chegaste ao ponto em que já não basta a tua fé nem a tua esperança: precisas de pedir a de Cristo. Pensamos que, porque tudo corre mais ou menos bem, estamos em paz… Mas vamos morrendo lentamente. Para viver a verdade de Cristo é preciso nascer de novo, e sofrer dores de parto. Mas não há nada mais pleno do que viver na verdade que só o Seu Espírito pode dar.

Luís: Pedro, vou precisar muito de ti neste caminho. Agora custa-me muito ver o que me dizes.
Pedro: Vamos precisar apenas d’Ele. E, mesmo que agora não o vejas, para isso serve a Fé. E, entretanto, na Sua Esperança, eu esperarei contigo.

Mãe,

Esposa perfeita que permaneceu fiel ao Esposo, ensina-me o caminho.